Entre todas essas duvidas, eu achei uma certeza de
que o fato de amar nada era exato. No meio de tantas pessoas covardes eu tive
coragem de sobra pra me entregar. No meio de vários amores insignificantes, eu tive
a audácia de querer o sublime. Então eu não quero que ninguém venha até a mim e
me peça pra desistir, nem me peça pra voltar, se ao eu voltar ainda estarão às
mesmas coisas que me fizeram ir embora. Se não há mais nada, nem ninguém, qual
razão eu tenho para querer ficar?
Olhe todas as coisas que eu perdi. Eu quis, eu
desejei de todo o meu coração. Eu praticamente implorei, eu até me dei por
inteiro a qualquer um, apenas por um pedaço de saudade, só que ninguém me
trouxe o seu abraço, ninguém nunca me trouxe o seu cheiro, ninguém nunca veio
com o seu jeito, todas que vieram erraram onde você acertou, e acertaram onde
você errou. Ninguém ao menos trouxe todo aquele seu medo, e também, ninguém nunca
pensou em querer levar embora todo esse meu desejo.
Só nós que sentimos, é que sentimos. Só nós que
sabemos, é que sabemos. Só nós sabemos o que nós vivemos. Não me interessa se a
denominação do que havia era amor, ou simplesmente amizade, ou ainda é todo
esse vazio confuso que nos habita. Acredito que se todos sentissem isso,
haveria mais vida, nessa vida. Haveria mais dias, no dia a dia. As pessoas
esqueceram que precisam bater, que o amar é viver, e que abdicar do amor é a
mesma coisa daquelas estrelas no céu quando esquecemos de notar.
Embora eu te ame, eu queria que não tivesse amor, ou
pelo menos não tivesse o meu amor. Eu do seu lado, e você do meu e isso bastava
a nós dois. A alegria fazia moradia, havia o gostar da companhia e de certo
modo, de um estranho modo, a gente se pertencia, sem nenhum compromisso, o que
nos unia era simplesmente o compreender. Pode até ser que tenha sido apenas amizade
no começo, mas teve que chegar ao amor e complicar todos os meus desejos,
trazendo a responsabilidade do recíproco, para fazer com que eu precisasse
sentir cada vez mais alegria, para me fazer desejar cada vez mais a tua
presença ao meu lado, e desejar o jeito que a gente era, mas que não é mais o
jeito que a gente deseja hoje em dia.
Se eu não te amasse tanto assim tudo seria igual,
mas disso você já sabe. O meu desejo é o de não querer gostar para que ainda
estivesse tudo igual, e todo aquele nosso amor seria apenas um detalhe que iria
se esconder em nós dois. O amor seria todo o silencio que me calava ao final de
um abraço teu, vindo de um desejo enorme de você não me soltar. O amor seria os
papeis de cartas que eu te dava com um desejo que você notasse. O amor seria o
meu olhar que iria desviar sempre ao te ver com outros que também deseja te
ter, por você conseguir ser feliz com cada um deles, mas reserva algum espaço
ai na tua vida, um lugar pequeno qualquer no qual eu pudesse continuar. O amor
estaria em um lugar onde tudo se concretizasse.
Depois disso tudo, é quando eu
vejo que esse amor sempre esteve lá, posso até pensar e querer que não era pra
ter sido, que pode dar um ótimo roteiro de filme o amor do qual a vida nos
livrou, que eu te amei e parti, que você nunca me amou e que nunca se importou.
Há infinitas possibilidades que eu posso tentar me dizer para confortar toda a
minha alma. E há milhões de motivos que eu não sabia nem por onde iniciar. Então,
se te digo sobre te esquecer, eu confesso uma coisa, eu não te esqueci, eu
desisti. Desisti é apenas um modo de continuar a vida, quando não podemos ter o
que se quer.
Eu vou voltar, não sei da onde, e nem de onde, mas
um dia eu vou te procurar. Vou te procurar quando um dia eu sentir vontade de
te chamar de “minha amiga”, sem sentir que isso é pouco demais pra mim, sem que
haja dor nisso tudo. Até que esse dia chegue, eu quero que você guarde todos os
dias pelo menos um sorriso pra mim, e se eu não voltar, mostre esse seu sorriso
ao mundo e fique sabendo que a vida pode ser feliz. E mesmo que eu nunca mais volte
você já saberá o motivo, mas também fique sabendo que vou recomeçar e tentar
achar um jeito de a vida ser mais feliz sem nós dois aqui junto de mim. Não que
eu não seja feliz, não é isso, mas vou procurar um jeito de tentar amar outra
pessoa de novo. Então...
Até logo, se assim for: “Minha amiga”. Até nunca, se
assim for: “Meu amor”.
"Se eu não te amasse tanto assim, talvez não visse
flores por onde eu vim, dentro do meu coração."
Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle
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