“Eu simplesmente não te amo
mais!” Foi isso que eu disse a mulher, na qual o único crime era o de não me
amar. Estava eu ali, parado em frente a porta da casa dela, não conseguindo nem
segurar as lagrimas e segurando um baú de lembranças e recordações. Prontamente
ela reconhece o baú, e perguntou o que eu fazia ali, na frente da porta dela,
com ele nas mãos. Então, eu respondi que havia trazido apenas para devolver, só
que agora eu, pensei direitinho e tinha trazido para dar um fim em tudo aquilo.
Dilacerava dois anos das nossas vidas, e de pouquinho em pouquinho, foram
caindo no chão, trechos de aniversários de namoros e trechos de frases como “Eu
te amo”. Ela ficava olhando pra mim, pedindo para que eu parasse com tudo isso,
porque “tudo ia se ajeitar um dia”.
Joguei o baú no chão, e a deixei ali, parada também perto da porta, na inércia,
apenas a vendo notar a caixa e mil pedacinhos de trechos, de frases, de cartas
e outras coisas que um dia fizeram tanto sentido pra nós dois.
Eu já estava na minha casa, todo estirado na minha cama. Tinha saído segundos
atrás do banho, banho esse que duraram horas, entrei no banheiro totalmente
triste e com as recordações, saí de dentro do banheiro bastante pensativo, como
o rosto um pouco molhado, mas não dá água do banho. Aquela noite de ontem,
continuava vindo em minha mente. Por mais de centenas de vezes ela tinha me
dito que não queria mais nada comigo, que todas as duvidas sobre o que sentia
por mim ainda estava presente, mesmo depois de todos esses anos que passaram,
mas disse também que precisava de mim, da minha amizade sempre. Varias vezes
insistimos em ser apenas amigos, houve tentativas de não falarmos mais,
tentamos ser só ficantes mesmo que unilateral, tentamos ser namorados mesmo que
unilateral também, ou seja, tentamos tudo(creio eu). Só que mesmo assim, eu não
conseguia entender, porque duas pessoas que se gostam tanto, e que tem um
imenso carinho uma com a outra, não tinha sucesso em descobrir uma maneira de
conviver na qual não saíssem machucados.
Nesses nossos vem e vai, parecia que ela tinha um radar, toda vez que eu
tava tranquilo, sossegado, e tinha superado tudo, ela reaparecia e me
confundia totalmente para me trazer de volta pra ela. É como se eu fosse uma espécie
de segurança pra ela, um chão, um porto, como se eu fosse estar sempre aqui pra
ela, pra quando ela quiser voltar. O pior é que sempre estive mesmo. Hoje em
dia particularmente não sou muito fã de joguinhos, na realidade, nunca fui do
tipo que fica escondendo o que sente. Algumas pessoas que me conhecem bem,
falam que só de olhar pra mim já sabe o que eu penso e o que sinto e acredito
que não ia ser diferente quando o assunto fosse justamente o amor.
Dessa vez, eu me prometi que não tinha como, nem cabimento para voltar.
Quando ela pensasse em usar aquele seu radar, eu ia correr como se não houvesse
amanha, para o mais longe possível e acabou, não ia ter como me encontrar. Pensei
em viajar e até foquei nessa ideia de passar um tempo fora, com certeza isso me
faria um enorme bem. Então eu fui, viajei, e assim que voltei, ela continuava
aqui, junto com todos os problemas que deixei pra trás, pensei que minha vida
ia ser igual aqueles filmes onde o mocinho viaja e tudo se resolve. Eu não
tinha como evitar o que sentia por ela, sentimento esse que não tem nome pra
mim. Apenas existe, ainda que eu não saiba me expressar, nem definir, ele tá
aqui comigo. Tentei mudar a minha vida, a minha rotina, arrumei uma nova namorada,
namorada igual aquelas que todo cara quer, mas que consideram impossível de tê-la,
inclusive eu, e mudei tudo mais. Devagar eu fui me reconstruindo e quando
estava ficando totalmente refeito, o fantasma dela ressurge, como era de se
esperar.
Logicamente tudo que a envolve, mexe muito comigo, mas eu fui decidido na
minha decisão, não abri as portas do meu coração, nem deixei com que ela
entrasse na minha vida. E eu ia fugindo, e ela vinha atrás de mim, com a mesma
frase, dizendo aquelas frases clichês que você costuma ver em Facebook, Orkut
e Twitter “no final tudo dá certo e se não deu é porque não era o fim", dizia
que eu sabia que a gente tinha um sentimento poderoso em comum e que mesmo que
ela não soubesse expressar exatamente o que é esse sentimento, ela sabia que eu
também sentia. Isso tudo era até verdade, mas eu não tinha que aguentar todo esse
mimimi, e esse vai ou não vai, essas idas e vindas, eu tinha me decidido, e
simplesmente eu não queria mais, não dava mais pra mim. Agora o que eu
perseguia e ia em busca era o amor de verdade, daqueles bem resolvidos e bem
sentidos.
Se há alguns anos atrás você me perguntasse o que ela representava e
significava pra mim, eu prontamente diria que ela era o amor da minha vida, que
eu iria casar com ela e tudo mais, mas depois de tudo que a gente passou, aqueles
sentimentos foram se perdendo no tempo e no espaço e foram se confundindo. Todas
aquelas minhas certezas do começo do nosso relacionamento desapareceram. Hoje
em dia eu já nem sei se eu realmente gostava dela, ou se simplesmente gostava
da pessoa na qual eu me tornava quando estava ao lado dela.
Se eu realmente era o porto e o chão dela, eu acho que eu o destruí, agora
eu não estava mais aqui pra ela, como se esperava que acontecesse. Eu estava em
busca de um novo navio, navio esse que se chama felicidade. E não estou me
importando qual o grau de intensidade desse sentimento em comum que eu tenho
com ela, esse sentimento vai ficar aqui trancafiado bem no fundo do meu coração.
Porque não adianta nada ter muito sentimento, se na prática não há nenhuma
sincronia, e nenhum entendimento. Conservarei o meu coração de ficar vivendo
assim, nesse vai e volta.
Lembrando do meu tempo de colégio, eu tinha um professor que ele costumava a
ler as mãos dos alunos, acredite ou não esse meu professor disse que no amor,
eu encontraria uma pessoa que iria me magoar bastante, e que iríamos viver
entre “tapas e beijos”, mas que ela ia me fazer muito feliz também. Quem sabe
ele não acertou? Um dia saberei.
“Sim, eu te amo!” disse agora a mulher cujo único crime era de amar muito e
não saber, não é por falta do sentimento que não dar certo, é que nós somos
muito destrutivos, precisamos ficar longe, se assim parece ser a única saída para
ficarmos protegidos. Pois, em alguns momentos, é pior amor demais, do que a
falta dele. Então eu fechei a porta, e ela ficou novamente lá em pé perto da
porta, como toda a sua inércia, com o baú nas mãos e em um saquinho os pedaços
de cartas.
A porta que na maioria das vezes é o caminho para novas oportunidades, e que
no nosso caso havia presenciado tantos abraços, carinhos, beijos, palavras e
momentos bonitos, presenciava agora o fim.
"Tão mais difícil que lhe dizer eu te amo, foi dizer que não a amava mais."
Jean Chandler