sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A historia.



Eu a conheci de um modo incomum, e a gente foi se conhecendo de modo incomum, quando eu menos esperei, eu já era dela. Ao conversar com meus amigos sobre você, eu lembro que um deles perguntaram como tava as coisas.

- Como vão as coisas entre tu e ela?


- Eu não sei, acho que é oficial. Acho que estou apaixonado por ela. Eu amo o sorriso dela, seu cabelo, 
seus olhos, até um sinal de nascença que ela tem. Amo o modo como ela lambe os lábios antes de falar algo. Amo o som da risada dela, o jeito que fica quando está dormindo. Amo tanto que ouço uma musica sempre que penso nela. Amo como ela me faz sentir, como se tudo fosse possível, tipo como se a vida realmente valesse a pena...

Ele olhou pra mim e disse que isso não era nada bom.

Ela nunca foi de demonstrar muita coisa, e dizem que quem menos demonstra mais sente, ela tem um muro, uma autodefesa enorme, só que mesmo assim ela me convidou para ai até a casa dela. Para mim esse dia foi o que mudou tudo, a parede e toda aquela autodefesa em que ela se escondia. A parede da distância, do espaço e do casual, essas paredes e essa autodefesa estavam caindo aos poucos, porque ali estava eu, no mundo dela. Um lugar que poucos foram convidados para ver. E lá estava ela, querendo que eu estivesse lá. Eu, e mais ninguém.

Eu deitei com ela na cama dela, no quarto dela, e ela me contou alguns dos seus sonhos, dos seus desejos, das suas inseguranças, das suas tristezas e dos seus pesadelos. Enquanto eu escutava, eu comecei a perceber que essas historias não eram contadas com frequência para as pessoas ao redor dela, era preciso merecê-las para ouvir. E eu sentia as paredes dela caindo, e nesse momento eu me perguntei se alguém já havia chegado tão longe, por isso as próximas cinco palavras mudaram tudo.

- Eu nunca contei isso a ninguém.


- Acho que eu não sou qualquer um.

Eu não sabia o que eu era dela realmente, não sabia se era um ficante, um ficante exclusivo, um passa tempo ou um namorado, não era tão simples assim, somos adultos sabemos o que sentimos, não precisávamos de rótulos: Namorado, namorada... Isso tudo é muito juvenil, pelo menos era no que eu queria acreditar, dentro de mim havia um alguém gritando e cheio de vontade de ser o namorado dela.

Meus amigos não podiam me dizer muita coisa sobre relacionamentos, eles não são nenhum profissionais e nenhum modelo em relacionamentos modernos (seja lá o que isso for) um deles namora com uma menina desde 1997, e o outro, o relacionamento mais longo que ele teve foi no ano de 2004 e só duraram três horas. Eles começaram a namorar e acabaram logo em seguida depois de passadas às três horas. Incrível? Complicado? Não, louco.

Eu não sabia o que fazer não sabia o que eu era dela, e isso estava me consumindo, no começo eu não me importava com isso, mas com o passar do tempo, eu queria saber o que eu era pra ela, mas eu pensava: “porque mexer no time? As coisas estão indo bem, rótulos estragam tudo. É como dizer: “Eu te amo”, o que eventualmente eu acabei dizendo.

Eu queria pergunta-la o que eu era dela. Isso era obvio. Mas estava com medo de receber uma resposta ruim e com isso estragar todas as ilusões criadas nos últimos meses. Mas eu tinha que descobrir antes dela achar um lugar melhor para estar e acabar casando com outro cara. Então eu lembro o que minha prima de nove anos disse pra mim: “Fica mais fácil, só não seja medroso”.

Com todas as aquelas duvidas e incertezas na minha cabeça, eu tentei não deixar essas coisas transparecer, então fui pegá-la pra ir pro cinema, e enquanto eu tava dirigindo, eu percebi que mal tava falando, e que eu continuava pensado nas mesmas coisas, e ela percebeu.

- Tá tudo bem?


- Estou sim.


- Tem certeza?


- Na verdade eu preciso te perguntar uma coisa: O que nós estamos fazendo, pra onde estamos indo?


- Indo ao cinema.


- Não, o que está acontecendo entre nós?


- Eu não sei... Quem liga? Eu estou feliz e você?


- Estou sim.


- Então isso é tudo o que importa.

Depois desse dialogo curto dentro do carro, ela começou a brincar comigo, ficou apertando minhas bochechas, ficou cantando musicas inglês da qual não sabe a letra e sorrindo com todo aquele encanto que ela tem.

Na sexta feira nós fomos ao um barzinho na cidade, e ficamos tomando umas bebidas e conversando, e eu percebi que ela estava diferente, eu dizia que não gostava de tal coisa e ela dizia que gostava apenas pra me contrariar, mas eu sempre ia na onda dela, até que um cara chegou e perguntou como ela tava, ela com toda a educação que tem disse que tava bem, sem ser rude nem nada do tipo. O cara continuou praticamente dando em cima dela como se eu nem estivesse ali, e eu deixei rolar, pra ver até onde ia, e o que ela diria. Então ela disse: “Não seja rude, eu estou lisonjeada, mas não tenho nenhum interesse, então porque não vai curtir o resto da sua noite.”. Chegou um momento que eu não aguentei mais ele falando tanta besteira e soltei a mão nele, e ela não gostou disso, tanto que passou o resto da noite seria e falando pouco.
Quando chegamos na frente da casa dela ela já estava de outro jeito, foi quando eu perguntei se havia algum problema.


- Eu ainda não to acreditando que você bateu naquele rapaz.


- Não foi legal você ter batido nele.


- Está com raiva de mim? Eu o bati por sua causa, pra defendê-la


- Sério? Foi pra mim, para o meu bem?


- Sim, foi.


- Dá próxima vez, não faça isso, eu não preciso da sua ajuda. E quer saber, eu estou muito cansada, podemos conversar sobre isso amanha?

Eu não falei nada, e fui andando em direção a porta, só que eu voltei e disse que não, que eu queria conversar agora, e que não ia a lugar nenhum, enquanto ela não me dissesse o que tava acontecendo.


- Nada está acontecendo, somos apenas...


- O que? Somos apenas o que?


- Somos apenas amigos.


- Não me vem com essa, nem tente... Porque o que passamos nesses meses não foi coisa de amigo. Beijos, andar de mãos dadas pelas ruas, sexo no chuveiro... Apenas amigos uma merda.


- Eu gosto de você, serio mesmo, só não quero nenhum relacionamento.


- Acho que você não é a única a poder opinar aqui, eu também posso, e eu digo que somos um casal.

Tá certo, eu sei que exagerei, mas o que eu podia fazer, a mulher que eu estava enlouquecendo estava me dizendo que éramos amigos? Era demais pra mim, então eu fiquei meio louco, e sem entender. Dai sai de lá, e fui pra casa.

Chegando em casa, eu tomei um banho pra tentar relaxar, e deitei na cama, passei horas me mexendo pra lá e pra cá sem conseguir dormir, pegava o telefone e discava o numero, mas não conseguia apertar o botão pra ligar, a noite foi longa, e do lado dela eu fiquei sabendo uns anos depois, que naquele dia ela também ficou a noite toda acordada sem conseguir dormir, e olhando pro telefone na esperança que ele tocasse e fosse eu ligando pra falar com ela, pra pedir desculpa, ou apenas pra dizer que não queria mais brigar. É engraçado, você quer falar, você quer ouvir a voz da pessoa, você sente falta, mas não liga, porque na frente de tudo isso tá o seu orgulho, orgulho esse que te tira todas as coisas boas que você um dia poderia ter. Então eu consegui dormir, tava chovendo, eu tinha acabado de pegar no sono quando escuto alguém batendo na porta, me acordei meio assustado, afinal já era tarde da noite, eu pensava: Quem nesse mundo chega na casa de alguém essa hora, o que essa pessoa poderia querer, o que essa pessoa poderia falar. Quando eu abri a porta era ela, toda molhada da chuva com a cabeça meio cabisbaixa. Eu me encostei na porta e fiquei olhando pra ela, ela não disse nada, continuou olhando pra mim e sorriu, e eu disse que não deveria ter pressionado ela daquele jeito, e disse que não precisamos rotular as coisas, mas que eu simplesmente precisava de algo concreto, mesmo sabendo que não vai acordar se sentindo diferente e ela sabia disso, tanto que ela entendeu o que eu quis dizer.

- Eu te entendo. Mas eu não posso te dar isso... Ninguém pode na verdade

Ela se aproximou de mim, me abraçou e me beijou, e disse que gostava de mim, e dava pra perceber pelo seu olhar que ela estava falando serio, rótulos não tinha, mas eu sabia que havia sentimento. A gente se deitou, ela dormiu comigo, e no dia seguinte, eu pedi pra ela me contar sobre os seus namoros passados, ela relutou no inicio mais depois falou dos rapazes que ela namorou na vida. E disse que todos os que ela disse foram os que duraram.

- E os que não duraram?... Eu Perguntei.


- O que sempre acontece. A vida.

Passaram-se um tempo e nós estávamos bem, bem até demais. Fomos ver em um museu uns quadros de pintores famosos, e enquanto estávamos lá, paramos em um que chamou a nossa atenção, era um quadro de Ballard, não conheço o pintor, mas era um quadro muito intrigante, era o tipo de quadro que de um jeito ele diz tudo, mas que de outro ele diz tão ponto, vai ver essa era a real intenção do pintor. Estávamos vem, ela estava feliz, e eu estava feliz por ela estar assim. Só que de uma hora pra outra tudo mudou, ela já não estava rindo como facilidade, já me evitava por algum motivo aparente, eu não sabia o que eu tinha feito, mas seja lá o que tivesse sido, o que ela sentia por mim havia diminuído, vai ver não queria mais ficar comigo, vai ver o ciclo acabou.

Eu estava quebrado, ou pior, eu estava sozinho, e minha única amiga era a dor. Um tempo atrás eu poderia ser garoto propaganda daqueles comercias da serenata de amor, eu estava transpirando sentimento, mas hoje não. Ela me deixou e minha vida foi saindo dos trilhos, eu estava em um emprego no qual não gostava, mesmo sendo formado em Direito. Foi ela partindo e eu começando a odia-la, tudo aquilo que eu mais amava nela eu passei a odiar, logicamente que isso tudo era porque eu estava totalmente magoado.

Até que eu decidir sair com outras meninas, sai com varias, mas sempre me pegava pensando nela, e teve um desses encontros que eu passei a noite toda falando dela, sai com morenas, loiras, ruivas de todos os tipos, mas elas não eram a que eu queria. Passei dias assim, sofrendo por uma menina que talvez nem lembrasse que eu existia.

Fazia uns meses que eu não a via, até que eu fui convidado para um casamento de um amigo meu, no qual ela também conhecia, eu a encontrei lá, conversamos um pouco, até que ela disse que ela seria minha acompanhante. Nos divertimos muito naquele final de semana, nem parecia que eu estava tão triste, afinal era ela que estava ali, a única pessoa que podia me tirar de toda a tristeza estava ali comigo. Foi ai que ela me convidou pra ir a uma festa na sua casa, eu fiquei feliz por ela ter convidado, afinal de contas, fazia tempo que eu não a via, e um convite vindo dela é sempre bem vindo. Muitas pessoas não sabem o que é o amor, existe historias de amor por ai de pessoas anônimas que são bem melhor que qualquer filme que Hollywood um dia já fez.

Então eu fui na casa dela, para aquele festa, fui caminhando intoxicado pela promessa da noite. Eu acreditava que dessa vez minhas expectativas iam se alinhar com a realidade, mas na verdade nada do que eu imaginei aconteceu, aconteceu tudo diferente, e no final ainda descobri que ela estava noiva. Depois de saber disso fiquei muito pior, a mulher que eu mais queria nesse mundo estava noiva, como eu ia me adaptar a isso, como eu ia viver com isso, eu não estava bem, e sabia disso. Depois de muitas coisas que eu passei sofrendo desse jeito eu parei e percebi que só eu posso me ajudar, então eu larguei o meu emprego que eu não gostava e voltei a me dedicar ao Direito, comprei alguns livros e estudei muito. Depois de um tempo eu a encontrei novamente, e ela sabia que eventualmente eu ficaria bem, mas eu disse a ela que não entendia, porque uma pessoa que não queria ser namorada de ninguém resolveu ser esposa de alguém, foi quando ela disse que um dia acordou e soube ou que comigo nunca teve certeza. Logicamente isso acabou mais ainda comigo, mas eu não deixei me abater, eu precisava estudar mais, pra conseguir um emprego em alguma advocacia de grande porte, precisava mostrar minhas dissertações, minhas teses e todos os projetos de lei que eu tivesse.

Eu tive algumas propostas de emprego que precisavam ser avaliada, mas uma advocacia muito importante da cidade ligou pra mim dizendo que queria marcar uma entrevista, e que eu concorreria com outras pessoas à vaga de advogado. Cheguei na advocacia, ela tinha um quadro da Deusa do Direito pendurada, muito bonita por sinal, tinha as cadeiras das pessoas que estavam esperando para falar com os advogados, tudo muito organizado.

A maioria dos dias do ano é comum. Eles começam e eles terminam sem nenhuma memória que dure nesse espaço de tempo. A maioria dos dias não tem um impacto significante no decorrer da vida. Mas naquele dia, lá na advocacia, sentada esperando também para ser entrevistada estava uma mulher, morena, cabelos grandes, pretos. Eu sentei, e esperei que me chamassem para eu ser entrevistado, Até que ela falou comigo.


- Tá concorrendo ao cargo de Advogado também?


- Sim, sim e você?


- Também.


- Parece que eu vou competir com você.


- Aparentemente sim.

Em um tom brincalhão eu disse que esperava que ela não conseguisse passar na entrevista e não conseguisse o emprego, e ela disse a mesma coisa pra mim, então rimos e ela disse que já tinha me visto em algum canto, só que eu nunca tinha visto aquela mulher na minha vida. Foi quando ela disse que me viu em um barzinho no qual eu frequento muito, só que eu disse a ela que nunca a vi por lá, foi quando ela disse que talvez eu não estivesse olhando... Conversando com ela eu aprendi algo, que nós não podemos atribuir um sentido divino ou até cósmico a um simples evento do nosso cotidiano. Coincidência é tudo o que é. Nada mais do que coincidência.

Então uma voz chamou o meu nome, para que eu fosse fazer a entrevista com o dono da advocacia, um dos melhores advogados do estado. Fui caminhando em direção a sala dela, só que eu parei, voltei, olhei para aquela mulher que estava sentada, a minha concorrente, e perguntei se ela queria sair comigo algum dia desses, e ela aceitou. Eu finalmente aprendi que não existem milagres. Não existem essas coisas de destino. Nada está destinado a ser. E eu tinha certeza disso agora.

Eu acredito que tudo acontece por um motivo. As pessoas mudam para que você possa aprender a deixá-las, as coisas dão errado para que você possa dar valor a elas quando estiverem certas, você acredita em mentiras e eventualmente aprende a confiar em ninguém exceto você mesmo e as vezes coisas boas dão errado para que as coisas melhores possam dar certo. Então foi ai que tudo pra mim começou a dar certo, e com tudo o que passou, eu aprendi, eu cresci e me tornei o homem que sou hoje.

Hoje em dia eu tenho uma namorada que realmente quer ser minha namorada, e estou trabalhando em um escritório de advocacia, fazendo o que eu gosto, e estou feliz com a mulher que eu amo, e que há reciprocidade. Ela é a luz que me guia de volta pra casa, ela, de todas as formas possíveis, me faz feliz. Todos nós homens temos uma coisa chamada “à mulher dos nossos sonhos”, provavelmente a mulher dos meus sonhos seria uma morena, de cabelo preto, com um bumbum grandão. Mas minha atual namorada é melhor do que a mulher dos meus sonhos. Ela é real.

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